Navegando

Por tempo indeterminado

Olá, olá, navegante! Espero que tenha começado 2022 com o pé direito no porto de suas realizações. Torço para que este ano seja um ano mais gentil para todos.

Bem, talvez você tenha notado que há um bom tempo não publico nada por aqui. É fato. E hoje venho comunicar a você – você que é uma raridade neste espaço – que irei iniciar uma pausa por tempo indeterminado. O blog continuará no ar – caso você queira revisitar algum post, ou mesmo se quiser entrar em contato -, no entanto, não haverá novas postagens.

Como você está aqui agora, devo-lhe alguma explicação, não é mesmo? Infelizmente não tenho uma grande razão para fazê-lo, apenas um punhado de pequenas razões: não tenho me sentido criativa o suficiente, não tenho recebido uma devolutiva animadora, tenho vivido alguns questionamentos pessoais e profissionais, enfim, uma série de coisinhas que me levaram a tomar essa decisão.

O Oceanografia e afins foi criado em 2014, num momento em que eu me sentia completamente mergulhada no mundo da oceanografia. Eu estava estudando para o vestibular e, logo em seguida, consegui a vaga na graduação no Instituto Oceanográfico da USP. Atualmente, faço um doutorado na área, mas nunca me senti mais distanciada desse mundo do que agora. Penso que o blog completou um ciclo. Foram sete anos de muito mar, de leituras, de histórias de percurso, de lágrimas e sorrisos. Desde o início, o que eu queria era a experiência do percurso, sem preocupação com o onde chegar. Assim, me parece, alcancei o objetivo básico. Estive com você, navegante – pessoa rara, rara pessoa -, compartilhando meus aprendizados e minhas (des)aventuras. E sinto que é hora de navegar por outras mares, outros ares.

Portanto, despeço-me aqui, por tempo indeterminado. Desejo a você uma jornada encantadora, qualquer que seja seu destino.

Receba meu abraço.

Obrigada.

Rô.

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Julho e Agosto no Instagram

Olá, navegante! Voltando depois de uma pausa. Já começo a soar repetitiva em meus retornos, não é mesmo? Dessa vez, no entanto, a pausa foi mais uma necessidade mental do que acadêmica. Em algum momento virei com um post sobre o assunto.

Hoje, quero apenas mencionar os vários posts que foram publicados no Instagram, seguindo o calendário oceanográfico estabelecido para 2021. Todos posts despretensiosos, lembretes de nosso amor pelos oceanos.

Em julho, para a semana voltada para a Década dos Oceanos, publiquei um post divulgando o Guia ilustrado de identificação de cetáceos e sirênios do Brasil, publicado em 2019, pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (ICMBio/CMA). Para a semana do quiz, a pergunta foi “Quem tem o maior olho do reino animal?” (Quer saber? Corre lá no post do Instagram). Também teve fotinhos – Arraial do Cabo e a polvo de pelúcia laranja. E para fechar o mês, um post sobre amostradores de fundo.

Em agosto, dediquei o post da semana da década ao projeto Oceano para leigos. O quiz foi mais um post de sugestões musicais dos seguidores do perfil. As fotos do mês foram um pequeno apanhado de uma viagem de campo realizada durante a graduação do IO. E o último post do mês foi sobre o uso de redes, tanto para pesquisa quanto para pesca, com os devidos alertas.

Por hoje, fico por aqui. Mas voltarei sem demora.

Um grande abraço e excelentes navegações.

Rô.

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E junho passou voando…

Boa noite, navegante. Que bons ventos tenham trazido você até aqui. Não sei como anda o tempo por aí, mas pelas bandas de cá o frio deu as caras nos últimos dias. Uma delícia! Acho que já comentei sobre minha apreciação do frio, não?

Volta e meia fico sem postar nada por aqui. Caso você tenha notado, já faz um mês que não apareço nesse cantinho oceanográfico. Não, não foi o frio que me afastou. Na verdade, baixas temperaturas tendem a aumentar meu ânimo. O que aconteceu foi o fim do trimestre letivo da pós e o fim do primeiro ano de doutorado. Leituras, trabalhos de conclusão, relatório. Isso foi o que me aconteceu.

Hoje, porém, consegui me organizar pra retomar a série de posts do calendário oceanográfico – que, diga-se de passagem, acumulou um punhado de publicações: lá no Instagram você poderá encontrar um post sobre ecobatímetro e sonar de varredura, um post sobre o documentário Oceanos (belíssimo documentário, aliás), um quiz e umas fotos saudosas, pois que me bateu uma vontade de embarcar! As postagens são despretensiosas, mas repletas de carinho.

Para além dos posts, a vida segue em meio à pandemia, levantando questionamentos e reflexões sobre a existência, sobre nosso papel neste mundo, sobre nossas responsabilidades. Tenho essa tendência, e você? É quase uma característica de herbívoros ruminantes, mas ao invés do pasto de cada dia, são os pensamentos, ideias, sentimentos que não cessam, uma coisa doida, pra ser bem honesta. Aliás, estou quase terminando a leitura de O demônio do meio-dia, de Andrew Solomon, leitura interessantíssima, importante pra quem sofre de depressão e pra quem quer entender um pouco mais sobre ela. Estou mesmo pensando em falar desse livro aqui no blog. Eu diria até que o tema é necessário, não só por conta do momento que vivemos, mas tendo em vista também aqueles que fazem parte do mundo acadêmico, do mundo científico. Há muita contestação, autoquestionamentos, dúvidas, crises. Um mundo maravilhoso e atordoante, não é mesmo? Enfim, só pra te dar uma ideia do que anda acontecendo no mundinho dessa pessoa que vos fala.

Aproveitando que estou pensativa e cheia de saudades, deixo aqui uma foto tirada num dia frio, em Cananeia, durante viagem de campo de uma disciplina optativa da graduação. Dá uma vontade de sair por aí, passear pelas praias e montes e caminhos do mundo afora… não dá, navegante?

É isso, navegante.

Um grande abraço e excelentes navegações.

Rô.

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Red List

Boa noite, navegante. Que os ventos lhe sejam benevolentes (é o que lhe desejo, influenciada pelos ventos frios de hoje).

E para dar continuidade às postagens do calendário oceanográfico, seguindo o tópico da semana, a Década dos Oceanos, trago uma referência bastante útil: a Red List, da IUCN (International Union for Conservation of Nature). Essa lista foi estabelecida em 1964 e classifica as espécies de acordo com nove categorias, desde as espécies acerca das quais não há dados disponíveis, até aquelas que estão completamente extintas (tanto na natureza quanto em cativeiro).

Em tempos de pandemia, penso que muitos de nós acabaram deixando de lado certas preocupações, tais como o estado da biodiversidade global ou as ameaças climáticas. Compreensível, já que estamos lidando cotidianamente, nos últimos tempos, com questões práticas (qual a máscara que melhor protege, não esquecer o álcool gel, sair ou não sair, como sair com segurança – quando não há opção etc.), bem como com questões extremamente delicadas (isolamento, transtornos mentais, luto). Entretanto, ainda que possa parecer demais, não podemos deixar de colocar em discussão nosso papel frente à conservação da biodiversidade de nosso planeta.

Agora há pouco publiquei no Instagram um post que traz alguns exemplos de espécies marinhas que estão criticamente ameaçadas de extinção. São apenas algumas dentre as mais de 37 mil espécies animais e vegetais ameaçadas em algum nível. Confesso que esse tipo de informação costumava (ainda um pouco) me deixar pra baixo, sem muita esperança de que a espécie humana pudesse vir a mudar o rumo dessa triste realidade. Ultimamente, contudo, tenho tentado encontrar formas de ser mais otimista, focando nos pequenos passos – que seja -, naquilo que eu, que você, que nós, não tomadores de decisão, podemos fazer. Além dos cinco passos que listei no post, eu acrescentaria aqui o voto consciente. Já disse isso outras vezes e continuarei repetindo: precisamos votar com consciência, escolher representantes políticos que tenham ciência de seu papel frente à conservação da natureza, que respeitem a vida do outro, dos outros, das demais espécies, que não coloquem interesses de oligarquias acima dos interesses de todos.

Enfim, navegante, não podemos nos esquecer de que seguimos vivendo neste planeta, de que somos parte dele, parte do problema e, definitivamente, parte da solução.

Um grande abraço e excelentes navegações.

Rô.

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CTD e ADCP

Olá, navegante. Espero que esteja bem e com saúde. Sentiu falta de posts? Se você acompanha o Oceanografia e afins deve ter notado uma certa ausência de movimentação por aqui, não é mesmo? As últimas semanas foram intensas. Caso você esteja antenado com nosso perfil do Instagram, deve ter visto a postagem sobre livros, em que contei brevemente da mudança de endereço (nos mudamos de São Paulo para Santo André), o que acabou gerando uma verdadeira quebra de rotina – estou com leituras por fazer, textos por criar, aulas de dança por alcançar, paredes por pintar, livros por organizar e, claro, posts por escrever. Minha cabeça andou meio caótica e só agora estou conseguindo acertar o rumo das coisas por aqui. Além da mudança, sofri a perda de um primo por Covid-19, o que fez com que meu coração ficasse um pouco pesado. Vivemos tempos tristes e tenho tentado nos últimos dias reanimar a esperança que vai em mim.  

Vamos à oceanografia. Hoje trago dois trechos do livro Estudos oceanográficos: do instrumental ao prático, organizado por Danilo Calazans e publicado pela editora Textos, em 2011, para apresentar dois instrumentos extremamente úteis, em especial na área de oceanografia física: o CTD e o ADCP. Acabo de publicar um post bem breve no Instagram sobre esses dois instrumentos, mas acredito que vale a pena saber um pouquinho mais sobre essas ferramentas incríveis. Vamos lá?

CTD (imagem encontrada aqui)

CTD

“O aparelho conhecido como CTD – do inglês Conductivity, Temperature and Depth, é o instrumento-padrão utilizado em Oceanografia para a obtenção de perfis verticais de profundidade, condutividade (salinidade) e temperatura. O primeiro CTD foi desenvolvido pelo oceanógrafo neozelandês Neil Brown, professor emérito do Woods Hole Oceanographic Institute. Hoje, vários fabricantes produzem esse instrumento com precisão variável e com limitações diversas na profundidade máxima atingida. Alguns podem atingir profundidades superiores a 10.000 m em função de possuírem uma carapaça de titânio; outros já são mais limitados, para águas mais rasas (<600m).

De acordo com Tomczac (2000), o funcionamento dos CTD baseia-se no princípio de medições elétricas. Uma vez que a resistência de um termômetro de platina altera-se com a temperatura, se for incorporado um oscilador elétrico, a mudança na sua resistência produz uma alteração na frequência desse oscilador, a qual pode ser medida. Some-se a isso o fato de que a condutividade da água do mar pode ser medida a partir de um segundo oscilador e variações na pressão produzem alterações num terceiro oscilador; esse sinal combinado é enviado por cabo condutor ao computador de bordo ou é armazenado na memória interna, enquanto o mesmo é baixado ou içado durante a estação oceanográfica. O CTD é dotado de uma bomba que faz a passagem rápida da água pelos sensores em função da diferença entre as constantes de tempo dos sensores de temperatura e condutividade. O sensor de condutividade é mais lento do que o de temperatura; assim, para evitar que cada sensor meça essas propriedades em diferentes níveis da coluna de água e, por isso, amostrar águas diferentes, fez-se necessário instalar essa bomba. Em instrumentos que não tenham esse aparato, o fabricante recomenda utilizar os dados coletados na subida do aparelho.

O CTD tem capacidade para fazer uma leitura contínua de temperatura e condutividade, como função da profundidade, numa taxa de até 30 linhas de dados por segundo. Essa combinação de pares de valores de temperatura e condutividade é transformada pelos programas de processamento fornecidos pelo fabricante, em salinidade e densidade, havendo opções para o cálculo de perfis de velocidade do som ou outras variáveis. Quando se tem a opção de transmissão direta para um computador, essas variáveis aparecem na tela sob a forma de um gráfico, possibilitando uma análise direta da situação e estação.

(…)

Frequentemente, outros sensores podem ser acoplados ao CTD, tais como: turbidímetros que, quando devidamente calibrados, podem ser usados para perfilar a concentração de sólidos em suspensão na coluna de água; oxímetros; fluorímetros, utilizados para a determinação da concentração de clorofila-α; medidores de pH; e sensores que determinam perfis de nutrientes. Perfiladores acústicos de correntes pelo método Doppler também podem utilizar a roseta como suporte e a comunicação com o computador de bordo é feita pelo cabo condutor.” (pp.115-117)

ADCP (imagem encontrada aqui)

ADCP

“O ADCP – do inglês, Acoustic Doppler Current Profiler é um perfilador acústico que mede a direção e a velocidade de correntes através da transmissão de um sinal sonoro de alta frequência, que é refletido de volta para o aparelho pelas partículas em suspensão na água. A velocidade e a direção são determinadas pelo desvio Doppler da frequência do sinal que retorna ao aparelho (…) Devido ao efeito Doppler, a onda sonora transmitida pelo transdutor, ao ser refletida pelas partículas, sofre uma ligeira mudança de frequência, proporcional à velocidade com que as partículas se afastam ou se aproximam do instrumento, diminuindo ou aumentando a frequência. O ADCP utiliza-se dessa diferença de frequência para calcular a velocidade das partículas em intervalos de profundidade, denominados células, cujas dimensões são determinados pelo operador, no momento de regular o aparelho. A suposição básica desse método é que as partículas em suspensão deslocam-se com a mesma velocidade do fluxo de água.

De forma bem simples e geral, a velocidade é dada por:

FD = -2FS (V/c)

em que:

V é a velocidade relativa entre fonte e alvo;

C é a velocidade de propagação do som;

FS é a frequência de transmissão do som;

FD é a mudança na frequência de transmissão (Efeito Doppler).

Os perfiladores acústicos por Doppler funcionam transmitindo disparos (pings) sonoros na água, através de transdutores cerâmicos em uma frequência constante e são divididos de acordo com a frequência do som emitido, que é o fator predominante no alcance máximo do instrumento – operam na faixa de 75 kHz até 3,0 MHz. Aparelhos de 75 kHz medem correntes até 500 m de profundidade; os de 300 kHz atingem profundidades em torno de 150 m; enquanto os de 1.200 a 1.500 kHz operam até aproximadamente 20 metros. A finalidade principal, e a maior vantagem desse tipo de instrumento, é o fato de possibilitar a obtenção de perfis verticais de velocidade de correntes. Os produtos principais dependem do modo de instalação do perfilador acústico: estático quando é instalado em pilares de pontes, paredões, margem de rio, lagos, canais, ou ainda fundeados, os produtos são séries temporais de nível (sensor de pressão), e velocidade e direção de correntes em vários níveis; dinâmico quando é instalado no casco ou lateral de embarcações, ou inserido em flutuadores e rebocado, os produtos são perfis verticais, transversais ou horizontais de velocidade de correntes.”(pp.119-120)

***

Espero que tenha achado o conteúdo interessante, navegante. Volto logo mais.

Grande abraço e excelentes navegações.

Rô.

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Sylvia Earle

Olá mais uma vez, navegante!

Hoje, além do post sobre garrafas e rosetas, venho falar um pouquinho sobre essa mulher inspiradora que precisa ser mencionada quando falamos da Década dos Oceanos. Você que acompanha nosso blog, sabe que temos um calendário para 2021, de acordo com o qual toda Semana 1 de cada mês é dedicada a algum aspecto dessa Década (2021-2030). Hoje o destaque é para alguma personalidade que lute pelos oceanos, por seu desbravamento e proteção de seus ambientes.

Sylvia Earle (Fonte da imagem aqui).

Sylvia Earle é dessas pessoas que inspiram. Aos 85 anos, segue lutando pelos oceanos. À frente da Mission Blue, fundada por ela em 2009, destaca-se por alçar sua voz e espírito em prol de nossa fonte primeira de vida: o grande oceano azul. Acabo de publicar um post no Instagram sobre essa grande mulher. Dê uma conferida.

Aqui eu gostaria de divulgar algumas fontes que, penso, valem a pena visitar e consultar.

A primeira delas é seu livro A Terra é azul, de que já falei aqui no blog. Se você não o leu, leia. É doloroso sim, a leitura às vezes nos faz engasgar, mas é importantíssimo que tenhamos consciência do valor dos oceanos e do que vem sendo feito deles.

E se você gosta de palestras, há uma de Sylvia Earle disponível no YouTube (clique aqui para assistir). Trata-se de um TedTalk de 2009 – a transcrição dessa palestra pode ser encontrada ao final do livro mencionado acima, aliás.

Outras duas referências importantes são dois documentários: o Mission Blue, de 2014, dirigido por Robert Nixon e Fisher Stevens, e que conta com a participação de, entre outros, Sylvia Earle e James Cameron; e o Seaspiracy, lançado recentemente, com direção de Ali Tabrizi, com algumas informações chocantes, mas que devemos conhecer, e que conta com a participação de Sylvia Earle que afirma, durante o documentário, não se alimentar de nada de origem animal. Uma surpresa feliz. Ambos documentários estão disponíveis na Netflix.

Se quiser ler um pouco mais sobre essa cientista, exploradora, escritora, você também pode acessar alguns sites bem interessantes:

O site do Mission Blue, para saber um pouco mais sobre o projeto, o site do Harte Research Institute – Sylvia Earle é embaixadora do Golfo por esse instituto – e dois artigos, um publicado na InStyle e outro na Mother Jones, ambos contando um pouco do percurso da cientista e apresentando trechos de entrevistas com Sylvia Earle.

Espero que você navegue por essas leituras e vídeos. Vale muito a pena conhecer o trabalho de Sylvia Earle.

Um grande abraço e excelentes navegações.

Rô.

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Garrafas e rosetas

Olá, navegante! Como tem passado? Espero que esteja bem e com saúde. Vivemos momentos complicados, não é mesmo? Torna-se mesmo difícil fazer uma pergunta tão simples como esta (como tem passado? como está? tudo bem?), já que, ultimamente, as respostas andam bastante complexas. De qualquer forma, espero que você esteja conseguindo manter certo equilíbrio e torço para que não tenha perdido a esperança de que as coisas vão melhorar. De minha parte, tenho enfrentado altos e baixos e, em diversos momentos, o que tem me salvado de me perder nos labirintos de sentimentos e pensamentos obscuros é a manutenção de uma dada rotina. Tenho um calendário de posts, tenho uma agenda de atividades que eu mesma organizei (atividades físicas, atividades de doutorado etc. etc.) e, volta e meia, quando bate aquele sentimento desesperançado, me apego às rotinas que criei para mim. Com o caminhar da execução de tarefas, acabo me sentindo um pouco melhor. Enfim, compartilho isso com você porque, talvez, você possa encontrar seu salva-vidas em estratégia semelhante.  Organize sua agenda, crie uma rotina e, quando as coisas parecerem nebulosas, mergulhe em suas atividades programadas, por mais banais que sejam: talvez uma série de abdominais diários, ou finalizar a leitura de uma certa quantidade de livros por mês, ou preparar uma receita nova cada semana. Fazia tempo que eu não valorizava tanto algumas pequenas atividades.

Sem mais divagação, conto-lhe um pouquinho do que foi a semana passada (afinal, deixei de publicar o post sobre um instrumento oceanógrafo, como previsto no calendário). Em fevereiro, o Centro Acadêmico Panthalassa do IOUSP abriu espaço para que professores e doutorandos pudessem oferecer cursos e minicursos aos alunos da graduação, durante o período de recesso. Eu hesitei, mas pensei cá comigo que seria uma oportunidade bem bacana montar a ementa de um curso, preparar as aulas, estudar e estudar. Tenho para mim que aprendemos demais quando ensinamos. E, pois bem, foi o que fiz. Organizei um minicurso intitulado Da geoquímica à circulação oceânica: uma breve visita às bacias marginais do Atlântico Sudoeste e me aventurei na empreitada. As aulas aconteceram no fim de semana passado (nos dias 27 e 28 de março), mas as semanas que antecederam foram intensas no que diz respeito à preparação das aulas, por isso acabei deixando de postar aqui, como previsto, sobre garrafas e rosetas – o que estou fazendo agora. Felizmente, o minicurso foi bem bacana (até cheguei a postar fotinhos aqui e aqui) e, ao menos de minha parte, fiquei bem contente com o resultado, apesar de achar – como de costume – que poderia ter sido melhor.

Hoje, então, tenho acumulados dois posts: um sobre instrumentos oceanográficos, mais especificamente garrafas e rosetas, e outro sobre uma personalidade envolvida com a Década dos Oceanos.

Garrafas e Rosetas

Dentre os primeiros instrumentos oceanográficos que iremos manipular durante a graduação, durante nossa vida de oceanógrafos, está a garrafa. Isso mesmo, a garrafa. Não aquela emblemática garrafa dos náufragos, carregando em seu interior a mensagem que atravessa os mares e os tempos, mas uma garrafa desenhada para atingir as mais variadas profundidades na coluna de água, permitindo coleta de dados, tais como a coleta da água propriamente, bem como a coleta da temperatura in situ.

A mais famosa garrafa de coleta é a garrafa de Nansen, desenvolvida em 1910 e que, como diz seu nome, foi criada por Fridtjof Nansen que, além de cientista, foi responsável por criar o passaporte Nansen, documento de identificação para refugiados da Primeira Guerra Mundial, o que lhe valeu o Nobel da Paz, em 1922.  

A garrafa de Nansen possui aberturas nas duas extremidades e desce aberta – presa por um cabo apenas em uma das extremidades – para que possa ser fechada apenas na profundidade desejada, ou seja, para que se colete a água da profundidade pretendida – caso desça fechada, dependendo da profundidade, a pressão da coluna de água pode, simplesmente, destruir a garrafa. Quando atinge a profundidade desejada, um peso de latão, comumente chamado de mensageiro, desce pelo cabo, disparando um sistema de molas que inverte a garrafa e, ao mesmo tempo, dispara o fechamento das válvulas, retendo, assim, a água daquela profundidade. É possível instalar mais de uma garrafa por cabo, cada qual com um mensageiro em sua base. Quando um mensageiro dispara a primeira garrafa, na inversão outro mensageiro é disparado e, assim, sucessivamente, até que todas as garrafas presas ao cabo sejam fechadas. Cada garrafa de Nansen pode amostrar entre 1,4 e 1,6L, o que é um limitante, já que a água coletada em cada estação oceanográfica serve a diversos propósitos, diversas análises que podem ir da análise química, como a de oxigênio dissolvido, até a análise biológica para a determinação de clorofila, por exemplo.

Imagem encontrada aqui.

No fim dos anos 1960, Shale Niskin desenvolveu uma garrafa que acabou com esse problema do volume, a conhecida garrafa de Niskin, que pode coletar entre 1,6 e 30L de água. Uma baita diferença! Essa garrafa fica presa pelas duas extremidades do cabo, não havendo inversão, portanto. Da mesma forma que a garrafa de Nansen, a garrafa de Niskin desce aberta e seu fechamento também se dá pelo envio de um mensageiro, cujo impacto aciona o fechamento das válvulas.

Comumente, um termômetro de inversão é acoplado às garrafas, de maneira a se obter a temperatura das profundidades almejadas.

As garrafas de Niskin, as mais modernas, podem ser acopladas a um sistema automático para a coleta de água, sistema esse desenvolvido pela General Oceanics Inc. e chamado de Rosette, ou Roseta. Nesse sistema, o fechamento das válvulas pode ser programado por computador (nesse caso, uma unidade de fechamento deve ser acoplada ao CTD que desce junto com as garrafas), ou pode ser feito de forma direta através de comando a bordo do navio, desde que haja um cabo condutor conectado à roseta.

Rosette com 24 garrafas de Niskin. Imagem encontrada aqui.

Espero que tenha gostado das informações.

Fico por aqui.

Um grande abraço e excelentes navegações.

Rô.

Referência:

MOLLER Jr., O.; ABE, M.P. “Capítulo 5: Oceanografia física” In Estudos Oceanográficos: do instrumental ao prático. Pelotas: Ed. Textos, 2011.

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ODS 14

Olá, navegante! Como tem enfrentado esse momento? Desejo-lhe muita coragem e muita força. E lembre-se: fique em casa, se puder.

Hoje é dia de comentar um pouquinho sobre um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estipulados pela ONU, para a Agenda 2030. E, para isso, escolhi o ODS 14: Vida na água. A ideia é dar uma olhada na definição deste objetivo e entender como está o levantamento dos indicadores para as metas determinadas. Tentei gerar um brevíssimo panorama deste ODS num post que acabo de publicar no perfil do Instagram. De maneira que deixo aqui o link para que você possa visitar o post, comentar e curtir.

Por hoje, neste domingo de muita preguiça, é isso, navegante. Fico por aqui.

Um abraço gigante e excelentes navegações.

Rô.

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Refratômetro e pH-metro

Olá, navegante! Hoje é dia de falarmos de mais instrumentos oceanográficos. Para isso, relembraremos dois conceitos: salinidade e potencial hidrogeniônico (ou pH).

Você, interessado no mundo da oceanografia, muito provavelmente já tem uma ótima noção do que sejam essas duas coisas, não é mesmo? De qualquer modo, bora puxar da memória.

Em relação à salinidade, é importante não confundirmos sal com o sal de cozinha. O sal de cozinha é um mineral formado essencialmente por cloreto de sódio (NaCl). Esse composto químico faz parte do sal presente nos oceanos, mas não é o único. A verdade é que os oceanos têm praticamente todos os elementos químicos presentes na tabela periódica. Mas, então, como definir salinidade? Trata-se, de modo bem simples, da quantidade total de sólidos dissolvidos na água do mar. Convencionou-se que se pegarmos um quilograma de água do mar, secarmos a água a 480°C, oxidarmos toda a matéria orgânica presente e substituirmos todos os brometos e iodetos por quantidades equivalentes de cloreto, bem como convertermos todos os carbonatos em óxidos, então o que teremos é a salinidade.  Considerando-se essa definição de salinidade, a unidade empregada é a de ppm (partes por mil). Há, no entanto, uma definição de salinidade que estabelece uma relação entre salinidade e condutividade, numa Escala Prática de Salinidade, e, nesse caso, a salinidade é dada como uma razão e, portanto, torna-se adimensional.

Ok. Mas e qual a utilidade de sabermos qual a salinidade da água? Se você tem aquário, com certeza sabe que os organismos estão adaptados para condições específicas de salinidade, alguns suportam grandes variações de salinidade (organismos eurihalinos) e podem transitar, por exemplo,  nas diferentes porções de um estuário, onde a salinidade é muito baixa no alto estuário e vai tornando-se gradativamente maior conforme se avança para a região propriamente marinha. Há outros organismos que vivem em áreas específicas dos estuários ou somente em áreas marinhas e que não sobrevivem a grandes variações de salinidade (organismos estenohalinos). Mas além da importância da salinidade para a biota, esse fator, juntamente com a temperatura e a pressão, é que irá determinar a densidade da água. E a densidade da água está diretamente associada com a formação das massas de águas.

Existem aparelhos digitais excelentes para a medição da salinidade, mas falaremos de alguns deles em outro momento. Hoje, vou falar do refratômetro, um aparelho de mão, super simples, e que tem como princípio básico a refração da luz, daí seu nome. Sabemos que a luz refrata nos cristais, certo? Consequentemente refrata em cristais de sal. Logo, a salinidade será diretamente proporcional à refração da luz nos cristais de sal presentes na água. Quanto mais cristais, maior a refração da luz, portanto, maior a salinidade. A precisão de um refratômetro não é exatamente ideal, variando em torno de 0,2, mas permite uma estimativa muito bacana. E é um aparelhinho super fácil de usar: abrimos a tampinha, lavamos a janela com água destilada, secamos com um papel bem macio, colocamos a amostra de água sobre a janela, olhamos contra a luz para realizarmos a leitura e pronto. Para guardar o aparelho, repetimos a operação de lavar com água destilada e secar a janela. Fácil mesmo.

Refratômetro de salinidade. (Fonte da imagem aqui)

O potencial hidrogeniônico é outro fator extremamente importante para o estudo dos oceanos e de toda a água de nosso planeta.  O pH é um índice da acidez, da neutralidade e da alcalinidade do meio. Esse índice varia de 0 a 14. O pH neutro é o 7. Abaixo disso, temos um meio ácido, acima disso, um básico ou alcalino. O pH corresponde ao logaritmo negativo da concentração de íons hidrogênio (H+), de maneira que quanto mais desses íons, menor o valor do pH.

Você muito provavelmente já deve ter ouvido falar da acidificação dos oceanos que tem levado ao branqueamento e potencial morte dos corais. Essa acidificação corresponde justamente à diminuição do pH (lembrando que o meio ácido possui pH inferior a 7). Essa diminuição do pH está relacionada ao aumento de íons hidrogênio livres na água, o que se dá por conta do aumento da absorção de CO2 pelos oceanos. Quanto mais CO2 na atmosfera, maior essa absorção pelos oceanos e, consequentemente, devido a uma série de interações químicas, maiores as concentrações de H+, portanto, menor o pH.

Esquema explicativo dos processos químicos envolvidos na acidificação dos oceanos. (Para fonte da imagem, clique aqui)

Para medir o pH da água utiliza-se um pH-metro. Atualmente são usados basicamente as versões digitais cuja determinação de pH tem por base a determinação da força eletromotriz (FEM), a partir de uma célula eletroquímica e de dois eletrodos.

Com relação ao pH da água do mar, vale lembrar que a água do mar não é ácida. Seu pH varia entre 7,8 e 8,2. No entanto, seu pH encontra-se – em média – 0,1 abaixo do que costumava ser antes da era industrial. Portanto, quando se fala em acidificação dos oceanos, não podemos confundir e imaginar que os oceanos estão ácidos, na verdade, o pH está diminuindo sim, mas ainda encontra-se acima de 7. De modo que falar em acidificação é uma forma de tornar a compreensão do fenômeno mais simples, já que na escala de pH de fato o pH dos oceanos está tendendo para o extremo dos valores ácidos.

É isso, navegante.

Espero que tenha gostado.

Um grande abraço e excelentes navegações.

Rô.

Fonte: Estudos oceanográficos: do instrumental ao prático, organizado por Danilo Calazans (Ed. Textos, 2011)

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Cultura Oceânica para Todos

Olá, navegante! Espero que esteja bem, que esteja se cuidando e cuidando dos seus e contribuindo para o cuidado geral. A proximidade do Carnaval anuncia um período complicado, no que diz respeito à manutenção dos cuidados necessários para combater a expansão da Covid-19. Que optemos sempre por ser parte da solução – e que não nos esqueçamos de que somos responsáveis por nossas ações, por menores que sejam.

E por falar em responsabilidades, venho falar rapidamente sobre um projeto associado à Década dos Oceanos e que merece ser divulgado: o kit pedagógico Cultura Oceânica para Todos. Trata-se de um material elaborado pela Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI) da UNESCO, que busca trazer informações científicas sobre as relações entre o individual e o coletivo e seus diversos impactos no meio marinho, um material pedagógico voltado para públicos diversos, de várias idades.

Material importante para o desenvolvimento da conscientização científica e desenvolvimento da percepção de que nossos atos, tanto individuais quanto coletivos, impactam no meio marinho. Como podemos ler no capítulo 3 do kit, “Construindo uma relação cívica com o oceano”, precisamos compreender que estamos todos juntos nesse barco, precisamos entender que somos, todos, dependentes dos oceanos e agentes responsáveis no estabelecimento de uma relação saudável com eles.

O material está disponível para download gratuito no site da UNESCODOC, a biblioteca digital da UNESCO. São 132 páginas de reflexões importantíssimas que precisam ser discutidas com todos, mas principalmente com as crianças e os jovens, em cujas mãos estarão as tomadas de decisão futuras.

Ainda que você não trabalhe com educação, vale a pena ler o material. É sempre bom ter informações para manter uma discussão saudável com as crianças e jovens da família e de nosso entorno geral. No mínimo, a leitura vale para alimentar seu espírito curioso – porque sei que você, navegante, deve ter o espírito curioso e disposto a aprender sempre.

Fico por aqui. Um grande abraço e excelentes navegações.

Rô.

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