Diário de Bordo

Sedimentologia

Boa tarde, navegante!

Outra tarde que decido tirar para dedicar, ainda que muito parcialmente, ao meu querido blog.

Hoje venho contar um pouquinho de minhas aventuras com a sedimentologia, uma disciplina que estuda as partículas provenientes da erosão de rochas, ou de materiais biogênicos, e que podem ser transportadas pelo vento, pelas ondas, pelas marés ou pelo gelo, por exemplo, e que acabam por depositar-se sobre uma determinada superfície, com a diminuição da energia do agente de transporte.

No dia 31 de março, fomos convidados a realizar uma visita pelos laboratórios de geologia do Instituto Oceanográfico. Essa visita nos permitiu tomar conhecimento de vários dos processos e equipamentos empregados para a análise de sedimentos.

20160331_152459

Este equipamento é um difratograma (BTX – Olympus). Por meio da difração de raios-X, correlaciona-se (utilizando-se da Lei de Bragg) o ângulo de incidência e difração do raio-X com a distância entre os planos do material cristalino no sedimento. Como cada material cristalino possui um padrão de distância tabelado, pode-se determinar quais materiais estão presentes na amostra. Vale mencionar que este aparelho produz um som quase hipnótico quando está em funcionamento.

(Imagem encontrada aqui.)

20160331_153344

Já este aqui é o Malvern. Ele realiza análises granulométricas de partículas de até 2 micra (cada micra equivale a 0,001 mm). O sedimento previamente tratado com peróxido de hidrogênio (para retirada da matéria orgânica), HCl (para extração de carbonato), e pirofosfato (usado para desaglutinar as partículas coesivas), no caso de sedimentos muito finos (como silte e argila), é atingido por um laser. Por meio de um algoritmo que analisa o ângulo de difração do laser na partícula, se obtêm as medidas granulométricas.

20160331_154247

Aqui você pode ver parte de um ICP OES. Esse aparelho detecta a emissão de comprimentos de onda de diversos elementos da tabela periódica. Por meio de um plasma acoplado (que produz uma chama de cerca de 8000 Kelvin), o aparelho faz análise de amostras líquidas, as quais são sugadas por capilares, atomizadas e, só então, analisadas na chama. Esse aparelho é muito eficiente e pode chegar a ler até 180 amostras por vez. Tentei tirar uma foto da chama de plasma (gás ionizado)…

20160331_154255

Mas não fui muito feliz…

20160331_155822

Este aqui é essencialmente um forno. Ele e o espectrômetro de massa juntos permitem a medição de carbono e nitrogênio nas amostras. Inclusive, é possível determinar a razão isotópica desses elementos.  (Tirei outras fotas, mas elas ficaram muito fora de foco…uma pena).

Para secar as amostras, existem dois aparelhos: um liofilizador, que faz uma secagem a vácuo, permitindo, assim, que a composição química do sedimento não seja alterada (utilizado para amostras lamosas, de silte e argila), e a estufa, em que as amostras, geralmente mais arenosas, são mantidas a temperaturas de até aproximadamente 60 graus Celsius.

20160331_160635 (A foto do liofilizador ficou péssima…mas só tirei essa…)

20160331_160809

(A estufa não parece muito interessante, não é?)

Depois dessa visita pelos laboratórios, tive uma experiência bem mais prática, na última quinta-feira. Saímos cedo do IO e fomos até o Guarujá. Pois é, em plena semana. Mas, obviamente, fomos para trabalhar e aprender a fazer, basicamente, duas coisas: construir um perfil topográfico e fazer coleta de sedimento.

Primeiro fomos até a praia do Guaiúba. Depois à praia do Tombo.

Para fazermos o perfil topográfico, utilizamos um nível ótico. Ele precisa ser colocado a 90 graus com a linha da praia, no limite com o mar. É preciso medir a altura do equipamento , para que se possa fazer a devida correção com um datum do IBGE.

20160407_113449

Ao olharmos pelo nível ótico enxergamos três linhas, ou fios: fio superior, médio e inferior. Esses fios indicam a medida numa régua que deve ser segurada em cada um dos pontos de coleta (partindo do ponto mais afastado para o mais próximo da água).

20160407_120219

Quanto às amostras, elas devem ser coletadas em potinhos plásticos, tomando-se sempre o cuidado de identificá-los e fazê-los corresponder a um ponto específico de um perfil específico.

20160407_120416

E é preciso sempre lembrar-se de anotar, para cada um dos perfis, a posição geográfica em latitude e longitude.

Além disso, fizemos discussões acerca da provável composição dos sedimentos de cada uma das praias, da homogeneidade ou não desses sedimentos, bem como da energia e direção das ondas, declividade da praia e várias outras características, marcadamente distintas de uma praia para a outra.

Apesar das seis horas passadas debaixo de um sol escaldante (e eu sem protetor solar!), o trabalho valeu muito a pena, servindo para me confirmar o quão valorosas são as atividades práticas.

Bem, como você deve ter notado, navegante, estou adentrando-me na área geológica da oceanografia. Não abandonarei meus queridos invertebrados, mas darei uma chance aos sedimentos e às histórias que nos contam.

Fico por aqui.

Um grande abraço e excelentes navegações.

Rô.

[Voltar para o topo da página inicial.]

Deixe um comentário